Escola Marx

 

CURSO LIVRE | EDUCAÇÃO NAS PERSPECTIVAS DA TEORIA SOCIAL E CRÍTICA MARXISTA

Curso encerrado, assista as aulas em: https://www.youtube.com/playlist?list=PL6Uu1ciicDuNiHpq0wR6WTqMGEVGgvXTr

 

Horários: quartas-feiras às 14h, começa dia 06/05

As aulas serão ministradas no canal do YouTube da Revista Movimento: https://www.youtube.com/c/RevistaMovimentoTV

Carga horária inicial – 5 aulas 

APRESENTAÇÃO DO CURSO

O processo de transferência de conhecimentos da espécie humana a partir da centralidade ontológica do trabalho proporcionou o desenvolvimento de civilizações cada vez mais complexas. Nas revoluções burguesas e industrial do século XVIII tem-se a transição para um modelo sistêmico norteado pela lógica do capital. Condição fundamental para a nascente classe dominante dos capitalistas impulsionarem ferramentas ideológicas que naturalizassem junto aos novos explorados (proletariado) a naturalização do recente modo de produção atual, o capitalismo. A adoção de um aparato formal como a escola moderna, responsável por inculcar os novos valores, trouxe consigo as contradições de uma sociedade alicerçada em classes sociais, onde a arena das disputas eram representadas a partir dos questionamentos de a quê e a quem ela deveria servir. A proposta deste curso é elucidar tais movimentos, seja nos aspectos cotidianos da educação, como a discussão de gênero e negritude nas escolas, ampliando para aspectos macros no campo das políticas públicas da educação no Brasil. Além disso, se tem como ambição pontuar as diferentes frações capitalistas e seus interesses exclusivos no campo da educação incluindo suas formulações para a formação da classe trabalhadora junto ao mundo do trabalho atual deformado pela precarização. Por fim, o curso pretende avançar em reflexões acerca das resoluções marxianas como programa de transição para o socialismo.

 

CRONOGRAMA 

06/05 – 14h – Módulo 1 Educação em Marx e um programa de transição para a educação

Palestrante: José Rodrigues (UFF)

Ementa: A discussão sobre a perspectiva marxista de educação não é nova no cenário internacional e, de tempos em tempos, emerge com mais ou menos intensidade. Uma das questões que atravessam o debate é a pergunta: a proposta de Marx e Engels para a educação escolar é ainda pertinente e, se assim for, tratar-se-ia de uma formulação voltada para o período pós-revolucionário ou caberia aos marxistas, particularmente aos educadores, lutar pela sua implantação ainda em sociedades capitalistas?

Esta apresentação tem a pretensão de dar uma pequena contribuição ao debate supra e, nesse sentido, objetiva defender a ideia da necessidade urgente de elaboração de um programa de transição para a educação, tomado o pensamento pedagógico de Karl Marx como seu núcleo central. A apresentação será dividida em quatro partes:

1.       A educação e a sociedade de classes atual, apresenta e discute a perspectiva burguesa de educação sintetizada na finalidade social (con)formação do cidadão produtivo.
2.       A educação politécnica no debate brasileiro, procura-se recuperar os principais aspectos deste debate, no Brasil, nos anos 1980-90, mostrando também alguns de seus limites.
3.       A educação segundo Karl Marx, procura apresentar o percurso e os principais aspectos do pensamento pedagógico marxiano que procurou dar combate à perspectiva burguesa de educação, em sua época.
4.       Por um programa de transição para a educação, pretende resgatar a noção trotskista de programa de transição e aplicá-lo à educação, tomando-se o pensamento marxiano como o seu centro.

Bibliografia:

→ MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos sobre educação e ensino. Campinas: Navegando, 2011 <https://www.editoranavegando.com/textos-sobre-educacao-e-ensino>

→ RODRIGUES, José. Por um programa de transição para a educação: em defesa da concepção marxista de formação politécnica. In: EPSJV. Caminhos da politecnia: 30 anos da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Rio de Janeiro: EPSJV, 2016. pp. 357-401
<http://www.epsjv.fiocruz.br/publicacao/livro/caminhos-da-politecnia-30-anos-da-escola-politecnica-de-saude-joaquim-venancio>

 

13/05 – 14h – Módulo 2 – O que é educação e a formação histórica da escola moderna

Palestrantes:  Patrick Morenghi (UFOP) e Frederico Henrique (UFRN) 

Ementa:  O modelo educacional presente em nossas vidas na contemporaneidade é o produto de um longo processo histórico, permeado de rupturas e continuidades, onde a epistemologia foi moldada ao longo da modernidade, dentro de uma longa pluralidade de contextos. Portanto adentrar nesse longo contexto histórico é tarefa essencial para conceber a constituição de tal modelo.

Assim, o presente módulo pretende demonstrar, a partir de um recorte da história das ideias, a transformação do conhecimento e a consolidação da ciência no final do século XVIII e todo século XIX. Esse recorte permite apresentar as conexões entre Revolução Industrial e Revolução Francesa na constituição da ciência e escola moderna.

Também vamos apresentar o deslocamento da agência histórica de protagonistas, que durante esse recorte foi do clero, nobreza, camadas burguesas e permitiu a apropriação do proletariado nas teorias emancipatórias e revolucionárias. A abordagem dos sujeitos é necessária para a compreensão das ações perpetradas pelos sujeitos, bem como os objetivos, necessidades nas quais os respectivos contextos impunham aos sujeitos.

Portanto, com uma breve abordagem, pretendemos entrecruzar contexto histórico e suas materialidades, agência social e teoria social e marxista, com o principal objetivo em compreender as possibilidades de construção, e, principalmente, transformação das perspectivas educacionais através da agência do ser na história.

Bibliografia principal:

→ HOBSBAWM, E. J. A era do capital. 9.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (capítulo 14)

Bibliografia Complementar:

→ MARX, Karl. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007: 47-50.

Referências bibliográficas:

→ HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções. 9.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
→ Patto, M. H. S. (2000). A produção do fracasso escolar. Histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo
→ BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
→ THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

 

20/05 – 14h – Módulo 3 – Educação e capitalismo: a educação enquanto mercadoria e formação do novo trabalhador precariado

Palestrantes:  Nívea Vieira (UERJ) e Amanda Moreira (UERJ)

Ementa:  As mudanças na base material e política das relações sociais capitalistas, e seu caráter regressivo, em todas as esferas da sociedade, recai na perda de direitos dos trabalhadores. As transformações que perpassam o mundo do trabalho, no âmbito do movimento geral do capital e de reestruturação produtiva, atingem a classe trabalhadora brasileira e penetram no âmbito da educação escolar.

Tendo como base o materialismo histórico dialético, pretende-se apresentar a trajetória da precarização do trabalho docente na educação básica. Para tal, se faz necessário distinguir suas particularidades, seu movimento e sua direção, sobretudo no setor público.

Com o objetivo de compreender melhor a via da precarização do trabalho docente a análise apontará para o cenário atual em que há uma incidência de frações capitalistas no campo educacional por meio de grandes corporações; e o quanto isso está imbricado com as relações de poder na sociedade contemporânea, assim como pelos conceitos de Estado ampliado e da construção de uma politica educacional que envolve disputas entre as frações dominantes, pela direção da escola pública.

Por fim, serão apresentados elementos para que o campo de esquerda possa transitar desde uma reflexão teórica, que tem que ir à raiz, à construção de uma unidade no plano ético-político, com o intuito de construir uma agenda de intervenção concreta nas lutas mais amplas da sociedade brasileira, assim como nas específicas da educação que interessam à classe trabalhadora, além da necessidade urgente de formação do intelectual orgânico da classe trabalhadora.

Referências bibliográficas:

→ BIANCHI, A. O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. São Paulo: Ed. Alameda, 2008.
→ DINIZ, E. Empresário, Estado e capitalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978
→ FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da Escola improdutiva 30 anos depois: regressão social e hegemonia às avessas. Trabalho Necessário. Ano 13, Nº 20, p. 206-233, 2015.
→ SILVA, Amanda Moreira; MOTTA, Vania Cardoso. O precariado professoral e as tendências de precarização que atingem os docentes do setor público. Roteiro, Joaçaba, v. 44, n. 3, p. 1-20, set./dez. 2019.
→ SILVA, Amanda Moreira. A uberização do trabalho docente no Brasil: uma tendência de precarização no século XXI. v.17, nº 34, set-dez (2019)
→ Todos pela Educação: o projeto educacional de empresários para o Brasil Século XXI. Disponível em http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT09-4799–Int.pdf Acesso em 05 de junho de 2010.

 

27/05 – 14h – Módulo 4 – Movimentos da educação: dos liberais à defesa da educação pública, gratuita e de qualidade

Palestrantes: Felipe Duque (SEPE) e Juliana Argolo (UFF)

Ementa:  Da institucionalização da pedagogia jesuítica no Brasil Colônia até a Constituição de 1988 e a Lei no 9.394/96, o Brasil passou por um longo processo de disputas, onde a luta de classes movimentou formulações sofisticadas para a educação no país. Os diferentes e variados atores históricos determinaram um modelo educacional que trouxe consigo contribuições de setores dominantes (igreja e empresários da educação) e dominados (classe trabalhadora). O objetivo deste módulo é esmiuçar essa caracterização e demarcar seus reflexos junto a legislação brasileira abrangente ao tema.

Referências bibliográficas:

→ CUNHA, Luiz Antônio. Educação, Estado e Democracia no Brasil. Cortez Editora. São Paulo, 1991.
→ SAVIANI, Dermeval. A Nova Lei da Educação. LDB: trajetórias, limites e perspectivas. Autores Associados. Campinas, SP, 2006.
→ _, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3. Ed. Ver. 1 reimp. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.
→ SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M. de; EVANGELISTA, O. Política educacional. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, 4 ed.

 

03/06 – 14h – Módulo 5 – Práticas pedagógicas emancipatórias: feminismo, negritude e indígena

Palestrantes: Débora Regina Camasmie de Campos (base da SINPEEM), Ana Paula Alves de Carvalho (Mover) e Heloise Rocha (SINTEPP)

Ementa:  A escola é um espaço que muitas vezes reforça e reproduz preconceitos e estereótipos da sociedade, porém é principalmente um espaço de transformação uma vez que essas questões são discutidas e refletidas por toda a comunidade escolar. Entendendo a educação como uma forma de transformação social, a escola tem o papel de preparar o educando para suas relações por intermédio de uma educação crítica e emancipatória.

As leis 10.639/03 e 11.645/08, que alteraram a lei de Diretrizes e Bases (LDB, Lei 9394/96) no Art. 26-A garantindo a obrigatoriedade do ensino da cultura e história africana, afro-brasileira e indígena na Educação Básica, além da ODS 5 (Objetivo de desenvolvimento sustentável – Igualdade de gênero) são ferramentas de combate às diversas facetas do machismo e racismo estrutural da sociedade brasileira, fundamentados no falso mito de democracia racial e igualdade numa hegemonia cultural eurocêntrica, patriarcal e até romantizada. Mais que descolonizar o currículo precisamos decolonizar as práticas educacionais ainda ocidental judaico-cristãs.

Isso só é possível conhecendo a origem da humanidade, as primeiras civilizações, impérios africanos e sua essencialidade para as tecnologias e conhecimentos científicos que perduram até hoje. Além de refletir sobre a grande invasão no século XVI que resultou no mundo que vivemos hoje no século XXI, as diversas formas de resistência, a dominação política, econômica e social, a participação efetiva das mulheres nessas lutas e o protagonismo feminino.

Discutir, portanto, as temáticas das relações étnico-raciais e gênero na escola é fundamental para entender as desigualdades sociais de maneira crítica e consciente da necessidade de igualdade por meio de políticas públicas. Nesse curso iremos discutir como essas questões podem ser abordadas em todas as etapas de ensino com relatos de práticas que abordam as questões raciais e de gênero no ambiente escolar.

Bibliografia:

→ Documentário exibido no canal Balaio: Afro-indígena. Africanidades brasileiras e educação. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=MIgSc3zZ4UE>. Acesso em: 2 mai. 2020.
→ LOURO, Guacira Lopes. “Currículo, gênero e sexualidade”. Porto: Porto Editora, 2000
→ RIBEIRO, Matilde; PIOVESAN Flávia (Org.) Dossiê 120 anos da Abolição. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n. 3 set./dez. 2008. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104026X2008000300017&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 1 mai. 2020.
→ VIANNA, Cláudia Pereira; RIDENTI, Sandra. “Relações de gênero e escola: das diferenças ao preconceito”. In: Diferenças e preconceito na escola São Paulo: a Summus, 1998. P 93 a 105.

Bibliografia complementar:

→ ADICHIE, Chimamanda Ngozi. “Sejamos todos feministas”. São Paulo: Companhia das Letras,2014.
→ MACHADO, Carlos Eduardo Dias e Alexandra Baldeh Loras. Gênios da Humanidade: ciência, tecnologia e inovação africana e afrodescendente. – São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2017.
→ MOORE, Carlos. Racismo e sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. – Belo Horizonte: Mazza Edições , 2007.
→ MUNANGA, Kabenguele (Org.). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC/BID/UNESCO,2005.
→ RAMATIS, Jacino. Desigualdade racial no Brasil – causas e consequências / Jacino Ramatis. – São
Paulo: IMÓ, 2019.
→ RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? / Djamila Ribeiro. – 1ª ed. – São Paulo:
Companhia das Letras, 2018.
→ SILVA, Tomaz Tadeu. “As relações de gênero e a pedagogia feminista” In Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. P 91 a 109.
→ SILVÉRIO, Valter Roberto. Síntese da coleção História Geral da África: Pré-História ao século VXI/coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Corina Rocha, Mariana Blanco Rincón, Muryatan Santana Barbosa. – Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013.
→ SILVÉRIO, Valter Roberto. Síntese da coleção História Geral da África: século VXI ao século XI/coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Corina Rocha, Mariana Blanco Rincón, Muryatan Santana Barbosa. – Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013.
→ TRINDADE, Azoilda L. Valores civilizatórios afro-brasileiros na educação infantil. In TRINDADE, Azoilda L (org). Africanidades brasileiras e educação: Salto para o Futuro. Brasília: TV Escola, 2013.
→ TURNER, Jonathan H. “Desigualdades: classe, etnia e gênero” In: Sociologia – Conceitos e Aplicações. São Paulo: Makron Books, 2000. P111 a 133.

Links e vídeos:

→ Coletivo Feminista estudantil Emef Sebastião Francisco, o Negro. Prêmio Territórios Educativos. https://youtu.be/ZBRWqZQGQeg
→ Entrevista para EDH professora Débora Camasmie – https://youtu.be/3D8yBdBUPo4 In
https://bit.ly/2UUCQxq